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Por elas e para elas

Por Felipe Gesteira*

A presidente Leila Pereira, da SE Palmeiras, durante coletiva de imprensa na Academia de Futebol (Foto: Cesar Greco/Palmeiras)

“Histérica” é a forma covarde como homens costumam atacar mulheres quando querem diminuir seu espaço de atuação. O diagnóstico amplamente utilizado por homens para o controle de corpos e mentes femininos e consequente subjugação se entranhou na sociedade contemporânea. Ainda hoje, infelizmente, é comum ver homens atacando mulheres dessa forma. Foi assim pela imprensa contra a primeira presidente da República do Brasil, é assim com diversas mulheres, cotidianamente.

Exatamente por isso é tão certeira a forma como a presidente do Palmeiras, Leila Pereira, classifica os chiliques histéricos dos homens ligados ao futebol como histéricos. Leila utiliza seu posto de poder para colocá-los nos seus devidos lugares e ainda faz sutilmente a crítica política de gênero. Ela é mulher, ocupa posição de liderança em um time de ponta, espaço que historicamente foi dominado por homens, e para despeito de muitos, tem alcançado resultados melhores que a maioria dos homens.

A projeção de Leila é tamanha que chega a provocar rivais. Da última vez que visitou a casa do São Paulo, o Morumbis, torcedores convidaram a presidente do time rival para trocar de clube. O que Leila Pereira fez pelo Palmeiras, mesmo que com muito dinheiro injetado, vai ficar para a história. Dinheiro no futebol não resolve tudo, há diversos casos de elencos caríssimos que naufragaram. É preciso ter gestão.

No último domingo, após a desastrosa atuação da arbitragem no clássico entre São Paulo e Palmeiras, dirigentes do Tricolor protestaram com razão, mas passaram da conta. Um diretor do clube, Carlos Belmonte, praticou xenofobia contra o técnico palmeirense, o português Abel Ferreira. No dia seguinte a presidente do Palmeiras rechaçou o ato de Belmonte e classificou o episódio como “ataque histérico”.

Mulheres estão inseridas no futebol e não somente dentro do futebol, trabalhando no esporte, mas em todos os espectros possíveis. Há tantas mulheres torcedoras quanto há homens, e se parece que estão em número menor, a culpa é nossa, dos homens, por não garantirmos conforto para que ocupem seus devidos espaços, seja nas arquibancadas, ou mesmo de fala. Quem nunca viu um homem interpelar uma mulher para ministrar uma pequena palestra sobre a regra do impedimento?

Ter menos mulheres como protagonistas nos espaços de convívio social como é o ambiente do futebol permite que aberrações como os casos de Cuca e Daniel Alves se proliferem. Digo “aberrações” não no sentido dos crimes e supostos crimes praticados, mas na legião de homens que saíram em defesa desses dois. Quando se defende um agressor, não é sobre ele, mas sobre o que queremos para a sociedade. Nesta semana em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, a jornalista Milly Lacombe deu uma verdadeira aula ao abordar o caso do técnico Cuca, contratado pelo Athletico. Aproveito este espaço privilegiado de coluna para, num dia tão simbólico como o de hoje, reproduzir trecho da fala de Milly:

“O que alguns chamam de uma noite de farra, para a gente é a morte. Mesmo que a gente não morra, a gente nunca mais vive. Uma mulher abusada, estuprada, assediada, acaba um pouco no ato do estupro, do assédio, do abuso. O Cuca não entendeu do que se trata. O Cuca nunca fez uma referência à menina (..) A gente precisa de aliados, o Cuca seria um grande aliado. Ele nunca entendeu que não é sobre ele, ele continua falando dele. Não é sobre ele, é sobre a gente, que está morrendo todos os dias nesse mundo. Quem defende o Cuca não entende do que se trata, não entendeu nada, nada, nada, nada. A gente precisa de ajuda porque a gente está morrendo todos os dias, simbólica ou literalmente”.

*Texto publicado originalmente na edição de 8.3.2024 do jornal A União.