Por Felipe Gesteira
Foi pênalti o lance envolvendo Arboleda e Vitor Roque na semifinal do Paulistão entre Palmeiras e São Paulo? Como sou torcedor tricolor, minha opinião parecerá clubista – para o bem do futebol eu defendo o clubismo, desde que seja declarado. Mas independentemente de ter sido ou não, a repercussão sobre o lance na última segunda-feira (10) foi tamanha que mais uma partida do futebol brasileiro terminou marcada pela arbitragem. Aqui, diferentemente da diretoria do São Paulo, não quero dizer “manchada” pela arbitragem, pois assim faria juízo de valor. A questão é que tendo sido pênalti ou não, após o término se falou mais da arbitragem do que do futebol, e isso é péssimo para todos os entes envolvidos.
Há quem diga que não foi pênalti, porém mais profissionais ligados à arbitragem dizem que foi. E este não é o maior dos problemas, visto que erros já aconteceram em centenas de partidas. Em reportagem publicada pela CNN Brasil, quatro ex-árbitros de futebol declararam com argumentos baseados na regra do esporte que o lance não foi pênalti. Vejamos:
Sálvio Spinola afirmou que o zagueiro recolhe a perna. “Dá para ver claramente que o Arboleda recolhe a perna, e o Vitor Roque cai. Para mim, não foi pênalti”. Mesmo entendimento teve Carlos Eugênio Simon: “Arboleda está recolhendo a perna quando Vitor Roque se joga sobre o jogador do São Paulo. Isso não é pênalti! Errou a arbitragem”.
Nadine Bastos, considerada uma das melhores auxiliares da arbitragem brasileira, aponta falha do VAR. “Nessa jogada, ele (árbitro) estava longe do lance com o apito na boca e, precipitadamente, paralisou o jogo. O pênalti não existiu, e o árbitro de vídeo deveria ter recomendado a revisão do lance para desmarcar a penalidade, já que o Arboleda recolhe a perna e o Vitor Roque projeta o corpo à frente tendo um leve contato no final. Mas quem provocou o contato foi o atacante”.
Por último, Rodrigo Braghetto afirmou que o VAR está no jogo pra isso. E aqui começamos o ponto central. Pra que serve o VAR?
Acho absolutamente aceitável que o árbitro Flávio Rodrigues de Souza tenha marcado pênalti no lance. Estava distante, e mesmo que estivesse próximo, todo mundo erra. A Federação Paulista de Futebol (FPF) divulgou o áudio da comunicação entre ele e o VAR, que confirmou a penalidade. Mas como no fim das contas toda a responsabilidade recai sobre o árbitro de campo, num caso como aquele, um clássico, partida eliminatória, ainda mais com toda a tensão que antecedeu o jogo, o mínimo que o VAR deveria ter feito era chamar o árbitro para que ele checasse as imagens e tomasse sua própria decisão. Não foi o que aconteceu, a decisão tomada foi precipitada. Mesmo que mantido o pênalti, se tivesse ido checar as imagens poderia argumentar que viu todos os ângulos e por isso tomou tal decisão.
Além das farpas trocadas entre clubes, sobrou também para a Federação, sob pressão do São Paulo por uma punição ao árbitro. Este, sim, ficou com sua imagem profissional manchada após tantos ataques na mídia, incluindo o pedido de afastamento. Na sucessiva série de erros envolvendo todo o episódio, houve também um comentário infeliz do presidente da FPF, Reinaldo Carneiro Bastos, que criticou a atuação do goleiro Rafael, do São Paulo. Cada um no seu quadrado, e se o VAR tivesse minimamente cumprido seu papel de chamar o árbitro, o resultado da partida até poderia ter sido o mesmo, porém com menos polêmicas.
Texto publicado originalmente na edição de 14.3.2025 do jornal A União.