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OPINIÃO: Pênalti não tem que ser justo

Por Felipe Gesteira

Pierluigi Collina (Foto: Divulgação/Fifa)

Galvão Bueno cansou de contar durante suas transmissões de partidas de futebol que o maior pegador de pênaltis de todos os tempos na opinião dele, o goleiro argentino Sergio Goycochea, teria confessado que sua estratégia consistia em não sair do gol na hora da cobrança, pois agindo dessa forma ele conseguia defender todo pênalti que fosse mal batido. Como um tiozão que repete as mesmas histórias, essa do Galvão voltou à tona após um vídeo compilado com diversos momentos de narrações em que ele repetia essa mesma conversa viralizar nas redes sociais digitais. Melhor de todos ou não, fato é que com atuações brilhantes em disputas de pênaltis, Goycochea desclassificou a Itália nas semifinais da Copa do Mundo de 1990 e levou a Argentina à final contra a Alemanha. 

Mas independentemente da qualidade, experiência, reflexos, leitura de jogo, pesquisa prévia sobre o batedor, até mandinga que se faça, cobrança de pênalti é um momento no futebol sempre mais vantajoso para o jogador de linha do que para o goleiro. Se bater forte num dos cantos, é quase impossível para o defensor buscar a bola. E quando a cobrança é durante o tempo regulamentar, por motivo de penalidade contra falta dentro da área, a situação fica ainda mais complicada, pois quem bate ganha, junto com seus companheiros de equipe, a possibilidade do rebote. Caso a cobrança não seja convertida em gol, a bola não fique nas mãos do goleiro ou seja colocada de alguma forma para fora, cai ali no meio para disputa de todo mundo. E por mais que se diga que os defensores também podem chutar para o mato, a posição de quem ataca frente ao rebote é muito mais vantajosa do que a de quem defende. 

Esse tema trazido aqui não é novo, sempre foi motivo de penúria para goleiros de todo o mundo. Quem colocou gasolina na fogueira foi justamente o presidente da Comissão de Arbitragem da Fifa, o ex-árbitro Pierluigi Collina. Em defesa dos arqueiros, ele propõe mudar a regra do futebol e acabar com o rebote, fazendo com que o penal marcado durante a partida tenha as mesmas condições daqueles que acontecem em sequência, para desempate do jogo. Dessa forma, basta que a bola não entre no gol e acaba a cobrança.

Em entrevista recente ao jornal “La Reppublica”, o ex-árbitro italiano ressaltou a discrepância nas chances para cada lado quando o assunto é cobrança de pênalti. “Acho que há uma lacuna enorme entre as oportunidades que o cobrador e o goleiro têm. Em média, 75% dos pênaltis terminam em gol. Além disso, há também a possibilidade da bola ricochetear no goleiro. Uma solução é a regra do tiro único, como nas disputas de pênaltis após a prorrogação. Não há rebote”, afirmou.

A fala de Collina repercutiu no mundo do futebol não apenas por seu relevante cargo atual, mas também pelo histórico de respeito. Além de ter apitado a final da Copa do Mundo de 2022, foi eleito pela Federação Internacional de História e Estatísticas do Futebol (IFFHS; sigla para International Federation of Football History & Statistics) como o melhor árbitro de todos os tempos. Em seu argumento, ele também pontua sobre a aglomeração atrás da linha da grande área como fator complicante para a partida.

Concordo com Collina a respeito do abismo entre as chances de quem ataca e de quem defende. Reconheço também que o argumento em defesa dos goleiros é muito bonito ao se basear num jogo mais justo para ambos os lados, no entanto, o termo “penalidade máxima” não existe à toa. Pênalti não foi pensado para ser justo, é para penalizar quem fez bobagem na pequena área ao defender mal. Seja o motivo da falta imperícia ou mesmo uma ação de caso pensado, arriscando alto para impedir um gol na iminência de ser sacramentado, para todos os casos, a pena é o pênalti, com vantagem para quem ataca.

Texto publicado originalmente na edição impressa de 14.02.2025 do jornal A União.