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OPINIÃO: A Textor, a lei

Por Felipe Gesteira*

Empresário John Textor é proprietário da SAF do Botafogo (Foto: Vitor Silva/Botafogo)

Não é fácil defender a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) diante de tantas turbulências políticas enfrentadas nos últimos anos. Considerando que a entidade é responsável por fomentar o esporte que ultrapassa o patamar de paixão nacional, é quase religião, em alguns casos, olhando de fora resta criticar o que há de errado e torcer para que tudo dê certo. Mas se tem um ponto no qual estou de acordo com o presidente Ednaldo Rodrigues até o fim é a disputa dele com o dono do Botafogo, ou como se diz formalmente, proprietário da SAF, John Textor.

Vamos aos casos. O primeiro diz respeito a um processo movido por Ednaldo Rodrigues contra Textor após acusações feitas pelo empresário contra o dirigente da CBF, em 2023, depois de uma partida entre Botafogo e Palmeiras. Textor chegou a pedir a saída de Ednaldo Rodrigues da CBF, no microfone, durante a transmissão.

Sobre o primeiro caso, pode-se afirmar que está na esfera pessoal, que trata-se de uma questão entre os dois a ser resolvida na Justiça. Ponto.

A grande questão é que o novíssimo mandatário botafoguense achou pouco e quis, como se diz no país, cantar de galo. Nos dias que sucederam o ataque a Ednaldo Rodrigues, John Textor disseminou acusações sobre suposto esquema de manipulação de resultados nas partidas do Campeonato Brasileiro. Insatisfeito com o desempenho do seu time na reta final da competição, o empresário achou que o Brasil fosse terra de ninguém e resolveu acusar sem provas.

Alguns princípios fundamentais do Direito funcionam da mesma forma em diversos regimes democráticos. Assim como em outros países, no Brasil também cabe a quem acusa o ônus da prova.

O pior é que como todo grande blefador, Textor falou ter provas. Mas o terreno onde ele adentrou é bastante espinhoso. Ao aventar a existência de um grande esquema de manipulação de partidas, o empresário põe sob suspeita não somente a CBF, mas todas as instituições e os profissionais envolvidos no futebol brasileiro, desde clubes, dirigentes, árbitros e, principalmente, os atletas.

John Textor foi no mínimo desonesto. Se tivesse mesmo as tais provas, teria apresentado no calor do momento a fim de salvar o ano do Botafogo. Seria uma tragédia para a credibilidade do nosso futebol, mas depois, passado a limpo e com partidas devidamente remarcadas, o episódio se diluiria na história. Ou a imprensa fica lembrando a todo tempo da máfia do apito no Brasileirão de 2005?

A manipulação de resultados é das piores chagas do universo esportivo. Já manchou a reputação de um ano da nossa liga, assim como com já aconteceu com a liga italiana e tantas outras. Ninguém confia numa competição após denúncias de roubalheira. A nuvem que paira sobre a suspeição afasta  patrocinadores e derruba carreiras de profissionais.

Textor desdenhou do Brasil. Ele não é dono de clube somente aqui. Cadê que diz algo semelhante sobre a liga francesa? Maus resultados não justificam, pois seu clube de lá, o Lyon, também não foi campeão ano passado. Textor disse o que quis confiando na impunidade. Não terá! O empresário será julgado nos âmbitos esportivo e criminal, além de ter que depor na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Apostas Esportivas, no Senado Federal.

Ao se dar conta de que falou demais e não tem provas sobre coisa nenhuma, Textor tentou apaziguar a relação com o presidente da CBF, que em resposta disse que só falará com o empresário pela via judicial. Nessa eu estou com Ednaldo.

*Texto publicado originalmente na edição impressa de 12.04.2024 do jornal A União.