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Onde assistir?

Por Felipe Gesteira*

(Foto: Gustavo Minas/Flickr)

Quem hoje é adulto no Brasil e cresceu assistindo aos jogos de futebol pela televisão entende o quanto esse movimento de acompanhar a transmissão da partida pela tela fazia parte de uma rotina tão ritualística quanto natural. Havia a preparação para estar na frente da TV, provavelmente na quarta-feira à noite ou no domingo, como se estes momentos estivessem travados na agenda. Ao mesmo tempo, ligar o aparelho e sintonizar no confronto dependia apenas de ter ou não o sinal, pois na maioria das vezes era a mesma emissora a responsável por transmitir todos os jogos.

O hábito de torcer pela TV mudou muito desde então, a começar pela chegada dos canais pagos. Antes mesmo da invasão das transmissões pela internet, com os pacotes devidamente assinados já era possível assistir a qualquer jogo de futebol pelo mundo. Essa possibilidade não estava acessível a todas as pessoas. Por se tratar de uma assinatura, havia um preço para o torcedor. Daí surgiram os bares e restaurantes especializados em exibir os jogos em telões. Muitos cobravam por isso uma parcela ao final da conta, como parte da consumação. Algo simbólico, em torno de 5% do custo para exibir a partida, mas considerando que o valor era cobrado de todos os clientes, a conta passava em três ou quatro vezes o necessário, resultando em lucro duplo para o proprietário do ambiente: ganhava na cobrança da transmissão e no consumo.

Outro elemento que se inseriu no cotidiano dos torcedores foi o telefone celular. Sendo por muito tempo chamada de “segunda tela”, a conexão à internet por meio desses dispositivos permitia uma experiência de torcida conectada com o mundo. O torcedor assistia à partida pela TV enquanto comentava os lances por meio de redes sociais digitais e aplicativos de mensagens instantâneas.

Foi assim até que a segunda tela deixou de ser segunda. Hoje o costume de assistir pela TV começa no celular com uma breve pesquisa para descobrir onde cada jogo será transmitido. Tanto é assim que o termo “onde assistir” domina as buscas no Google e os títulos e primeiros parágrafos do noticiário esportivo, formando um conjunto de informações guiado para atender aos motores de busca que trabalham para entregar conteúdo aos navegantes da grande rede de computadores, tablets, smartphones, geladeiras, TVs e sabe-se mais o quê.

A descentralização das transmissões de TV mudou completamente a forma como torcedores e clubes interagem com este produto tão lucrativo desde que os espaços de publicidade começaram a ocupar até pedaços do campo. Do lado do clube vende-se de direitos a mando de campo, enquanto da torcida é inegável que ficou mais acessível. Muitas ligas que antes só apareciam em canais específicos da TV paga hoje estão de graça no YouTube.

Para não dizer que só falei de flores, houve perda na qualidade da transmissão. O avanço tecnológico por mais câmeras, qualidade, definição 4k e ângulos exclusivos é inversamente proporcional às narrações e comentários feitos em estúdio. Claro, é caro mandar equipe para cada estádio, mas narrar qualquer jogo do mundo de dentro de um estúdio também não é a mesma coisa. E quando um comentarista ou narrador profissional é substituído por um apresentador de podcast que tem como diferencial ser engraçadinho, aí é que a coisa desanda.

*Texto publicado originalmente na edição de 1.3.2024 do jornal A União