Por Felipe Gesteira

Contagiada pela emoção da quarta Libertadores da América, uma amiga flamenguista disse que adotaria um gato amarelo e chamaria o bichano de Filipe Luís, em homenagem ao atual treinador do Flamengo, que também alcançou o mesmo título como jogador.
Não é um feito simples. Somente seis homens na história do futebol conseguiram o êxito da conquista do título da Libertadores como jogador e treinador defendendo um mesmo time: Roberto Ferreiro (Independiente; 1964, 1965 e 1974), Juan Martín Mujica (Nacional; 1971 e 1980), José Osmar Pastoriza (Independiente; 1972 e 1984), Marcelo Gallardo (River Plate; 1996 e 2015), Renato Gaúcho (Grêmio; 1983 e 2017) e Filipe Luís (Flamengo; 2019, 2022 e 2025).
A marca alcançada por Filipe Luís o coloca no patamar dos maiores ídolos do Flamengo. Mesmo que haja quem queira desmerecê-lo enquanto técnico, talvez por considerar que o elenco é bom demais e qualquer um seria capaz de fazer o Flamengo jogar, não funciona bem assim. E mesmo que fosse o caso, títulos são marcas incontestáveis que põem seus detentores na prateleira dos heróis.
Mesmo assim, façamos o exercício de rememorar alguns treinadores do Flamengo nos últimos anos. Desde a temporada mágica do português Jorge Jesus (2019-2020), o Rubro-Negro nunca mais teve um elenco fraco. Entre altos e baixos de títulos, as competições vêm sendo disputadas por esquadrões extremamente competitivos. Passaram pelo comando do time: Domenec Torrent (2020), Rogério Ceni (2020/2021), Renato Gaúcho (2021), Maurício Souza (interino, 2021), Paulo Sousa (2022), Dorival Júnior (2022), Vitor Pereira (2023), Jorge Sampaoli (2023), Tite (2023/2024) e, por fim, Filipe Luís.
Se tantos deram errado mesmo comandando elencos repletos de estrelas, não é justo desqualificar um treinador tão vitorioso somente pelo fato de seu trabalho atual ser o primeiro da carreira. Filipe Luís ainda terá muito o que provar enquanto profissional, mas seus méritos atuais são inegáveis. O time joga redondo, unido, de forma dinâmica e com grande variação tática. O Flamengo de hoje enche os olhos sem dever nada àquele de Jorge Jesus.
A cobrança sobre o trabalho de Filipe Luís e a falta de valorização profissional diante de uma renovação contratual escancaram a falta de respeito do clube com o profissional que além de vencedor, também deve ser tratado como ídolo. Lembrei disso durante a semana ao participar de uma brincadeira proposta pelo site do ge. Criaram um jogo onde era possível escalar o melhor Flamengo de todas as Libertadores, com jogadores que venceram os quatro títulos. Distante da paixão do torcedor, escalei o meu assim:
Raul (1981); Rafinha (2019), Mozer (1981), Marinho (1981) e Junior (1981); Andrade (1981), Zico (1981), Arrascaeta (2019, 2022 e 2025) e Gérson (2019); Gabigol (2019, 2022) e Nunes (1981). Técnico: Filipe Luís.
Mandei a escalação para Cadu, um dos meus melhores amigos flamenguistas, que prontamente discordou da escolha do técnico. Na opinião dele, seria Jorge Jesus. Expliquei que Filipe Luís estava ali quase como uma menção honrosa, pois diante do seu tamanho, não podia ficar de fora. Como jogador, ele disputava posição nesta brincadeira com ninguém menos que o Maestro Júnior, e aí, contra divindades, não se discute. Dentre os flamenguistas, no mesmo nível de Júnior não há ninguém, e acima dele, somente Zico. O gato da minha amiga também poderia se chamar Júnior, Zico, Andrade, Arrascaeta.. mas se chamará Filipe Luís. E que gato de sorte!
Artigo publicado originalmente na edição de 12.12.2025 do jornal A União.