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ARTIGO: Risco Paquetá

Por Felipe Gesteira*

(Foto: Lucas Figueiredo/CBF)

Todo investimento envolto por pendências judiciais é de alto risco. Seu preço no mercado é depreciado, e justamente por isso pode se confirmar como uma oportunidade. É dessa forma que o Flamengo encara a possibilidade de repatriar o meia Lucas Paquetá. Sob condições normais, o time carioca não teria como comprar os direitos para tirar do West Ham o jogador da Seleção Brasileira, no auge da carreira, aos 26 anos de idade. 

Lucas Paquetá pôs sua carreira em xeque quando foi envolvido em investigação por suspeita de ter participado de esquema de manipulação de resultados junto a casas de apostas esportivas. Com o fim do caso, o jogador pode, de início, ser impedido de atuar na Inglaterra e, depois, a pena pode ser ampliada pela FIFA. Caso tudo dê errado até lá, cabe recorrer. E se não puder jogar entre os ingleses, enquanto recorre, poderia atuar em outras ligas, como a brasileira. 

Se vier para cá, Paquetá está em outro patamar, como gostam de dizer os flamenguistas desde o tempo de Jorge Jesus. Vem com problemas na Justiça, mas nada que afete sua imagem a ponto de inviabilizar o negócio, como foi o caso do técnico Cuca, no Corinthians. Vale destacar que o Flamengo é o time do coração de Lucas Paquetá, o que faria da vinda do jogador um grande negócio de mobilização da torcida e marketing positivo.

Ao iniciar as negociações com o West Ham, os dirigentes do time Rubro-Negro cogitaram um empréstimo com cláusula de compra em caso de condenação, o que foi rechaçado pelos ingleses. Do lado de lá só interessa a venda, pois diante de maiores complicações, parte do prejuízo tomado com o investimento no atleta seria amenizado. Há dois anos, o West Ham investiu mais de 60 milhões de euros na compra do jogador. Antes da acusação de envolvimento em esquema de apostas, o valor de mercado de Paquetá girava em torno dos 100 milhões de euros. 

Investir em Lucas Paquetá pode ser um excelente negócio esportivo. Grosso modo, é como comprar um carro com emplacamento atrasado, cheio de multas, mas o comprador mora em uma cidade do interior e não pretende usar o veículo para atravessar os limites do município. Assim adquire um carrão de luxo, o qual não teria como sob condições normais, e sai pela cidade pagando de rico. Mesma coisa para quem investe em ações de empresas que estão em recuperação judicial. Americanas é um exemplo. Quem comprou no auge perdeu muito dinheiro, mas quem compra hoje sabe da situação atual e aposta numa possível recuperação. 

Lucas Paquetá seria titular em qualquer time do Brasil. E desafio o torcedor que ouse não querer um jogador do nível dele no seu time. Culpado ou não, o problema com a questão das apostas vai passar. A preço de hoje, o jogador é visto pelos brasileiros como mote para criação de memes. O Flamengo compra sabendo tratar-se de um investimento que não poderá revender, mas se der o previsto resultado esportivo e de marketing para a instituição, valerá o risco.

Texto publicado originalmente na edição de 5.7.2024 do jornal A União