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ARTIGO: O exemplo francês

Por Felipe Gesteira*

(Foto: Reprodução)

“Precisamos nos identificar com valores de tolerância, respeito e diversidade”. A frase dita durante entrevista coletiva no último domingo (16) foi proferida por um dos maiores craques da atual geração do futebol mundial, o francês Kylian Mbappé

Não é comum ver jogadores de futebol se posicionando sobre questões de âmbito político. Infelizmente. No mercado da bola de hoje, os jovens atletas são tão envolvidos – e podados – por sua equipe de gestores, consultores, empresários e assessores de imprensa que mal podem falar. O mundo do futebol perdeu não só a liberdade dos atletas sobre posicionamento político, mas também a espontaneidade das entrevistas à beira do campo, a provocação, o riso. Parecem hoje um bando de engessados falando mais do mesmo.

Diante deste cenário do mercado, e ainda num contexto em que a extrema direita avança no mundo, ídolos do futebol francês têm se posicionado publicamente a fim de utilizar sua visibilidade para mobilizar eleitores pela defesa de valores humanitários.

Vale ressaltar que não estamos tratando da direita clássica, dos conservadores, dos liberais. É importante diferenciar porque no Brasil, direita e extrema direita têm se confundido nos últimos anos. A extrema direita brasileira costuma se intitular como direita no intuito de suavizar sua imagem. No mundo, a extrema direita levanta bandeiras anti-humanitárias. 

Com o avanço da extrema direita no Parlamento Europeu e a convocação de novas eleições legislativas na França, ícones do esporte no país como Marcus Thuram e Ousmane Dembelé se posicionaram. A fala de Mbappé caiu como uma bomba, pautando a imprensa internacional. 

“Estamos num momento crucial na história do país. Você tem que saber resolver as coisas e ver suas prioridades. Somos cidadãos acima de tudo, não devemos estar desligados do mundo. Estamos numa situação sem precedentes. Quero dirigir-me a todos os franceses e, em particular, à geração jovem. Vemos que os extremos estão às portas do poder. Temos a possibilidade de mudar tudo”, disse Mbappé.

Em seguida, o craque Thierry Henry, um dos maiores jogadores franceses de todos os tempos, endossou a fala de Mbappé.

“Creio que já sei o caminho que esta entrevista vai tomar, então falarei primeiro. Concordo com tudo o que foi dito antes a respeito se entramos na política. Não vou me aprofundar no debate, mas compartilho das palavras já ditas (…) Estou contra tudo o que divide e a favor daquilo que pode unir”, afirmou.

Se antes faltavam franceses para tratar de política, os atletas de hoje, muitos descendentes de imigrantes, formam a voz para enfrentar a xenofobia e tantos outros retrocessos defendidos pela extrema direita.

*Texto publicado originalmente na edição de 21.06.2024 do jornal A União.