O primeiro dia de novo mandato do presidente Ednaldo Rodrigues no comando da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) foi encerrado com a consolidação de uma crise que se anunciava antes mesmo do início de sua gestão. A derrota trágica para a Argentina pelas Eliminatórias da Copa do Mundo coloca no colo do gestor um problema de resolução urgente: é preciso resgatar o futebol da Seleção, e isso, ele bem sabe, não se resolve com uma simples troca de técnico.
Se puxar pelo retrospecto, a Seleção Brasileira parece aquele aluno muito inteligente, mas que não gosta de estudar. Ele sabe que pode matar umas aulas, perder uma ou outra prova, mas no final, mesmo que fique para a recuperação, conseguirá passar de ano. Foi assim por muito tempo. Com exceção daquele impecável time de 1982, que era bom em absolutamente tudo, o Brasil por diversas vezes jogou sem grandes construções táticas. Fazia o básico, fechava a casinha com uma defesa sólida e resolvia do meio pra frente com jogadores muito acima da média dos adversários. Novamente, fora 82, sempre que o básico não foi suficiente, perdemos.
Talvez por ser tão simples, lá nos idos de 1994, a música tema nos intervalos em tempos de Copa do Mundo anunciava que “na torcida são milhões de treinadores, cada um já escalou a Seleção…”, porque sim, a dúvida era praticamente escalar, em campo eles se resolviam no básico.
“Copia, mas não faz igual”. Parece meme, mas acontece na vida real. Quando nossos técnicos tentam copiar modelos aplicados fora sem que tenham a mesma bagagem de repertório dos grandes treinadores, o resultado é desastroso. Na Copa do Mundo de 2014, Felipão copiou o 4-2-3-1 do Bayern de Munique, com pontas de pernas trocadas cortando para o meio. Achou que bastaria escalar igual e tudo daria certo como dera um ano antes, na Copa das Confederações. Passamos vexame justamente para a seleção formada pela base do Bayern.
Se alguém ousa defender a Seleção Brasileira, ao menos mostre algum padrão tático de jogo. Não tem, e vem sendo assim há muitos anos. Temos um monte de craques soltos, atabalhoados, sem função aparente, cada um tentando resolver à sua maneira. E por mais que Dorival tenha culpa, não se pode dizer que é tudo culpa dele. O problema na Seleção é estrutural e sistêmico. O próprio Ednaldo também tem sua parcela de culpa. Tudo bem que tentou trazer Carlo Ancelotti, mas quem viria num momento político inseguro como aquele? Em seguida, por pior que seja Fernando Diniz, se apostou nele, que o deixasse trabalhar. Aquilo dali não se faz. Agora marca para hoje uma reunião com Dorival para, na melhor hipótese, deixá-lo no aviso prévio, pois todos os cotados para o cargo têm compromisso com o Mundial de Clubes da Fifa.
A CBF precisa intervir e realmente fazer a diferença, ouvir as demandas dos clubes, repensar calendários e competições, fomentar e reestruturar o esporte. Jogo da Seleção era pauta de conversa para a semana toda, dias antes e depois. Hoje acompanhamos jogadores que, com poucas exceções, são ilustres desconhecidos da torcida. A reconquista precisa também ser planejada tendo o torcedor como alvo, valorizando nossas ligas, segurando craques aqui por mais tempo em vez de vender para qualquer time só por ser de uma grande liga, causando prejuízo a longo prazo na carreira do atleta. O desafio de Ednaldo à frente da CBF é muito mais do que fazer a Seleção voltar a vencer, mas passa também por isso.
Texto publicado originalmente na edição de 28.3.2025 do jornal A União.