Por Felipe Gesteira
Foi grande o privilégio do torcedor da Inter de Limeira que pôde acompanhar do estádio Major Levy Sobrinho, o Limeirão, uma grande exibição de Neymar. A partida realizada no último domingo (23), válida pela 12ª rodada do Paulistão, teve a assinatura do craque santista com duas assistências e um gol. Olhando do ponto de vista de quem foi torcer pela Inter de Limeira pode ter sido uma tragédia, mas pensando melhor, assistir da arquibancada a um grande espetáculo no futebol é uma oportunidade que poucos têm na vida.
Sobre assistir a uma tragédia, lembro-me de um episódio pessoal na Copa do Mundo de 2014, aquele fatídico 7 a 1 que sofremos contra a Alemanha. Dias antes, passei uma madrugada inteira atualizando o site da Fifa na tentativa de comprar um ingresso para a partida. Nem tinha passagens para Belo Horizonte, e se não conseguisse, iria de carro, do jeito que desse. O primeiro ponto era arrumar o ingresso. Nunca assisti a um jogo da Seleção e vi ali uma oportunidade. Estava confiante que conseguiria, mas não deu, foi só uma noite de sono perdida. Assistimos ao jogo pela TV mesmo, e amigos próximos que sabiam da minha tentativa disseram “ainda bem que você não conseguiu”. Pensando como quem quer ver seu time ganhar, estão certos, mas na minha opinião, mesmo diante da tragédia, do chororô de David Luiz e tudo o mais, eu pensava exatamente o contrário, e sofria duas vezes: uma pela derrota e outra por não poder ter assistido a um momento histórico do futebol mundial da posição privilegiada que é a arquibancada do estádio.
Esse devaneio sobre um assunto vez por outra repetido por aqui – do tanto que doeu a vergonha – serve para ilustrar que se fosse eu o torcedor da Inter de Limeira que saiu de casa num domingo para ver seu time perder do Santos por um placar de 3 a 0, ainda assim dormiria satisfeito pela oportunidade não só de assistir ao baile, mas também poder interagir com um craque tão controverso. Sim, porque não podemos dizer que Neymar é unânime, do tanto que já aprontou, até soco deu em torcedor, assim como ninguém pode falar que ele não joga bola. O torcedor da Inter de Limeira provocou Neymar à beira do campo na hora da cobrança de escanteio e, como resposta, ganhou um belíssimo gol olímpico. O jogador, evocando a marra dos grandes craques do futebol brasileiro, sentou na placa de publicidade e devolveu a provocação à torcida. Duas assistências e um gol, ok, Neymar já desequilibrou assim outras vezes, mas quem imaginaria um gol olímpico?
Do meu ponto de vista, assistindo pela TV, deu gosto de ver além da volta por cima e de uma grande exibição do Neymar, também a volta do futebol marrento. Quem acompanhou os estaduais e brasileirões na década de 1990 lembra bem que clima é esse. Os jogadores na saída do campo não tinham esse papinho humilde fabricado e treinado pelas assessorias de imprensa. Hoje em dia parece que todos falam a mesma coisa, mas antes a marra corria solta, era provocação e autopromoção comendo no centro. Tempos de Romário, Renato Gaúcho, Túlio Maravilha e tantos outros que diziam o que realmente pensavam, faziam análises sinceras sobre as partidas e, quando podiam, ainda mandavam recados que repercutiam no dia seguinte.
O apelido que vem sendo dado nas redes sociais digitais de Superbrasileirão 2025 à liga nacional deste ano devido à presença de tantos craques repatriados da Europa novamente nos clubes brasileiros é válido, mas penso que o Brasileirão deste ano será divertido não apenas pelo nível técnico, mas também pelo clima. A volta da marra ao futebol brasileiro é extremamente benéfica para quebrar o gelo.
Texto publicado originalmente na edição de 28.02.2025 do jornal A União.