Por Felipe Gesteira
Um movimento iniciado por atletas profissionais contra a utilização de gramados sintéticos no futebol brasileiro tem recebido cada vez mais adesões e provocado uma profunda discussão social entre todos os entes envolvidos no esporte. Diante da repercussão, jogadores e clubes vêm discutindo a respeito dos prós e contras entre utilizar gramado sintético ou grama natural. Um dos principais argumentos é o de que as maiores ligas do mundo não utilizam gramado sintético, e nesse ponto o complexo de querer ser grande e fazer parte do grupo dos maiores mexe com o brio da nação. No Brasil, Palmeiras (Allianz Parque), Botafogo (Nilton Santos) e Athletico (Ligga Arena) são os clubes que se beneficiam e tentam reduzir a polêmica nas redes sociais a puro clubismo, mas é muito mais do que isso.
Quem começou o movimento foi Lucas Moura, do São Paulo. Em seu perfil no Instagram, ele fez uma publicação para iniciar a polêmica, que já rendeu diversas falas e entrevistas sobre o tema. “Objetivamente, com tamanho e representatividade que tem o nosso futebol, isso não deveria nem ser uma opção. Nas ligas mais respeitadas do mundo os jogadores são ouvidos e investimentos são feitos para assegurar a qualidade do gramado nos estádios. Trata-se de oferecer qualidade para quem joga e assiste. Se o Brasil deseja definitivamente estar inserido como protagonista no mercado do futebol mundial, a primeira medida deveria ser exigir qualidade do piso que os atletas jogam e treinam”, publicou o jogador.
Em seguida ele recebeu apoio de outros craques de renome internacional que fizeram história em ligas na Europa e também pela Seleção Brasileira. Neymar e Thiago Silva entraram no movimento. Com as adesões, o tema ganhou ainda mais relevância na imprensa especializada. De repente surgiram especialistas nos dois tipos de gramados para discutir se o sintético é ou não prejudicial à saúde dos atletas. Na literatura científica há diversos artigos apontando maior risco de lesões para quem joga em gramados sintéticos. Ao mesmo tempo, outros foram apresentados confrontando esses dados e alegando que o risco é o mesmo, seja qual for o tipo de piso. Com o choque de versões, os atletas ajustaram o tom e passaram a focar no que para eles pode ter mais comoção social: o espetáculo. O próprio Lucas já falou em entrevista no fim do jogo da quarta-feira (19), contra a Ponte Preta, que não se trata de questão de saúde, mas puramente técnica.
A repercussão a respeito do tema cresceu a ponto de chegar até a imprensa internacional. Bernardo Silva, do Manchester City, foi questionado sobre esse movimento de jogadores brasileiros e de pronto classificou a grama natural como melhor para o esporte.
Os clubes que utilizam o gramado sintético defendem a manutenção do sistema principalmente pelos custos mais baixos. No caso do Palmeiras há um ponto a mais: a arena deles é bastante utilizada para realização de grandes shows. Sendo o piso sintético, não há danos.
O destaque que vem sendo dado ao tema mostra também a força que os jogadores podem ter quando se unem por uma causa. Sobre a melhor grama, sintética ou natural, já não tem mais volta, pois mesmo que nada mude, a polêmica foi instalada e respostas terão que ser dadas. O impacto causado pela discussão pode servir para mexer com outros temas sensíveis ao futebol brasileiro em relação ao internacional. Depois da grama, unidos e organizados, os atletas podem conseguir mexer no calendário. O excesso de partidas no Brasil, toda quarta e domingo, é queixa antiga, atrapalha o descanso, a recuperação, sobrecarrega os jogadores, aumentando o número de lesões, e reduz o tempo de treinamento. Caso ninguém se importe com a saúde dos atletas, o argumento de que é pelo espetáculo cairá como uma luva.
Texto publicado originalmente na edição impressa de 21.02.2025 do jornal A União.